domingo, 16 de agosto de 2009

Nathalia Dill: 'Quem não tem uma santa e uma diaba dentro de si?'

 

Fotos: Gustavo Azeredo

 

Esqueça a pele perfeita, os cabelos escovados, as roupinhas recatadas e em tons pastéis, a voz doce e a fala pausada, os gestos comedidos e delicados. Todo aquele poço de candura que é Maria Rita em "Paraíso" nada — ou muito pouco — tem a ver com Nathalia Dill, a atriz que lhe dá vida no horário das seis. Unhas dos pés pintadas de vermelhão, jeito descolado, jeans e camisetinha básica, frases pontuadas por gírias e até alguns palavrões, a atriz despreza os modelos de perfeição.
— Antes de entrar em cena, fico uma hora na caracterização. Definitivamente, aquela da TV não sou eu. Aquele cabelo e aquela pele são da Santinha, não meus. Acho que se ela aparecer com uma espinha, vai desvirtuar toda a história. Maria Rita nasceu para ter pele de porcelana, foi criada na sombra. As pessoas acham que ator é um ser perfeito, e ninguém é — dispara Nathalia, colocando em xeque a imagem inabalável de sua personagem: — Ela não tem nada de boba. É forte, sabe o que quer, tem desejos que não consegue reprimir, sente tesão no berrante tocado por Zeca (Eriberto Leão).
Se aos olhos de Nathalia o codinome Santinha não cabe à mocinha da novela que perde as estribeiras diante do Filho do Diabo, muito menos tem a ver com ela mesma. A atriz diz não se enquadrar em qualquer tipo de religião:
— Minha fé não precisa passar pela instituição Igreja. Acredito em coisas inexplicáveis, em vida após a morte, em um e em vários deuses. Tem um lance que Eriberto fala muito: sincronicidade. É isso. E, vamos combinar, quem é que não tem uma santa e uma diaba dentro de si?
Em pouco mais de dois anos de carreira na TV, Nathalia Dill conseguiu experimentar as dores e delícias das sonhadas vilãs e mocinhas de novela. Em outubro de 2007, fez sua estreia em "Malhação" na pele da malvada Débora, uma patricinha capaz de passar por cima de todos para atingir suas metas. Nem deu tempo de se despedir da mau-caráter e, em março deste ano, passou a encarnar a angelical Maria Rita, moça de interior fadada à vida religiosa para cumprir um desejo reprimido de sua mãe, a beata Mariana (Cássia Kiss).
— Vou completar quase 24 meses direto de trabalho, é cansativo, mas não tenho do que reclamar. Férias para ator é sinônimo de desemprego. Foi maravilhoso fazer dois personagens tão diferentes num espaço de tempo tão curto. A Débora explodia em cena, gritava, quebrava tudo. Mas também precisei trabalhar nela outras facetas: sofredora, apaixonada, arrependida... A Santinha também tem suas sinuosidades. Ao mesmo tempo que é submissa, tem picos de raiva, dá umas cortadas na mãe. Todo mundo gostaria que ela desse uma boa bofetada na Mariana, se revoltasse. Por enquanto, esse é o meu desafio como atriz: me conter em cena.

 


Grunge na adolescência
Do alto de seus 23 anos, Nathalia insiste que, na adolescência, não chegou a ser rebelde. Mas o que dizer da garota que, aos 13, seguia o estilo grunge, usando bermudão xadrez enfeitado com correntes, tênis velho, blusa esgarçada e cabelo pintado de azul com tinta de papel crepom?
— Ah, eu gostava de rock! Como toda menina da minha idade, fui apaixonada pelo Kurt Cobain (líder da banda Nirvana), mas também tinha uma queda pelo Leonardo Di Caprio. O que é que tem? — dá de ombros a atriz, adepta do futebol e do long, tipo de skate maior que o tradicional: — Nunca fui a princesinha mimada, pelo contrário, sou prática!
Levar a vida sem frescuras é o lema da jovem carioca, criada no Leblon e filha de professores universitários. Nathalia, que costuma se divertir tocando pandeiro em rodinhas de amigos ou em noitadas na Lapa, tomando uma cervejinha, jogando sinuca e dançando samba de gafieira, diz que repressão é uma palavra que nunca entrou em seu dicionário.
— Minha criação foi muito diferente da de Maria Rita. Sou de cidade grande, estudei em colégio superalternativo, meus pais são pensadores. Nunca precisei peitar uma decisão deles, até porque sempre houve diálogo em família. Estava falando isso ainda ontem com meu namorado (o baixista e compositor Vitor Paiva): decidi ser atriz mesmo sem ter um exemplo em casa. Meus pais não fazem arte, mas consomem, apoiam. Quando decidi fazer faculdade de direção teatral, meu pai falava de mim com o mesmo orgulho com que falava da minha irmã, que fez engenharia.
Foi na profissão que a bela menina de pele alva e olhos verdes foi apresentada a uma coisa chamada... maquiagem!
— Só aprendi a me maquiar por causa do teatro. A verdade é que sempre fui muito desencanada com essa história de beleza, aparência... Talvez se eu tivesse nascido com um cabelo problemático ou com facilidade de ganhar peso, seria um pouco mais vaidosa. As cabeleireiras do Projac vivem reclamando que eu não hidrato meu cabelo. Mas eu não tenho saco! Sou muito preguiçosa...

 

Foto: João Miguel Jr./ Divulgação/ TV Globo

 

Nem aí para beleza
Com Nathalia, esse negócio de estar sempre linda e sarada passa batido.
— Sou igual a todo mundo. Tem dias em que me acho bonita, mas tem outros... Produzidinha, vestido preto, saltão, fico bacana. Mas, no dia a dia, quero mais é conforto, não curto decotes. Na praia, de biquíni, fica difícil me achar bonita, aparecem todas as imperfeições. E não quero ser perfeita! Nunca trabalhei para ter um corpo incrível, nunca fiquei horas na academia para ter uma superperna e um abdômen sarado. Acho tudo isso um absurdo.
Na hora de seduzir, portanto, ela diz que ganha é na conversa.
— Essa coisa de troca de olhares não existe, é mentira. Quantas vezes o cara é o maior gatinho e, quando abre a boca... Só quando tem uma troca de ideias, começo a me interessar por alguém — entrega, contando que conheceu o atual namorado através de amigos em comum.
E fidelidade, é importante?
— Precisa responder essa? Pode pular? — sai pela tangente a atriz, que contabiliza "quatro ou cinco" namoros longos: — Quando me relaciono sério, geralmente é com alguém que já conhecia. Tenho outros interesses que não os sexuais. Se a pessoa não mostra conteúdo, não dura.
Fama não alterou rotina
Avessa à glamourização da profissão, a atriz conta que, alheia a todo o sucesso que tem feito na pele de Santinha, não deixou de frequentar os lugares e fazer as mesmas coisas de antes da fama.
— Vou ter medo de ser reconhecida por causa do meu trabalho? De jeito nenhum! Dá para ir a shopping, ao clube, às ruas, sem medo de ser feliz. Se você anda normal, não tem problema nenhum. Agora, tem gente que sai com "oclão", salto alto, bolsa dourada e não quer ser vista... Aí não dá, né? — diz: — Dia desses, fui à Saara com meu namorado, usando uma roupa qualquer. Não fiquei encarando as pessoas, foi tudo tranquilo. Artista que fala que não pode mais andar de ônibus porque ficou famoso, exagera. Usa o falso glamour que a Globo dá como desculpa para andar de táxi.
Quando o assédio dos fãs é inevitável, Nathalia conta que é parada por gente de todas as idades. Segundo ela, essa visão de que só senhorinhas assistem à novela das seis é furada:
— Crianças e adolescentes também veem "Paraíso", até porque o horário de "Malhação" é colado com o da novela das seis. Ninguém assiste a um programa só, não se troca o público do sofá assim. É misturado, todo mundo vê tudo. Outro dia, fui fazer umas fotos no Jardim Botânico e parou um ônibus de excursão, com alunos de três escolas. Foi desesperador, eu querendo trabalhar e um paredão de crianças gritando "Santinha!".
Do público idoso, a atriz costuma ouvir pedidos desesperados para que Santinha e Zeca terminem juntos:
— É legal ver as pessoas torcerem pelo casal protagonista. Hoje em dia, o vilão costuma ser o preferido. Cristina Mullins (que interpretou Maria Rita na primeira versão de "Paraíso", em 1982) me contou que, na época dela, duas senhoras soltaram para ela na rua: "Minha filha, se eu fosse você, eu dava logo para o Filho do Diabo". Não é genial?

 

Foto: Luis Alvarenga

 
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domingo, 2 de agosto de 2009


TV Globo/João Miguel Júnior  
Nathália Dill como Santinha

 
 
 
Paraíso ainda nem acabou, mas Nathália Dill já tem planos para o que vai fazer quando não estiver mais na pele de Santinha na novela da Globo.

De acordo com o jornal O Globo, a atriz está pronta para viajar para o exterior, Portugal para ser mais específica, onde visitará sua irmã, que mora em terras lusitanas. E acha que as férias param por aí.

Depois da Europa, Nathália tem planos de ir até Nova Ioque, nos Estados Unidos, para passear. Boa viagem!